Ao longo do relato, já um tanto engrolado de minhas Memórias, ocasionalmente deparo com alguns retalhos ainda reminiscentes de situações vivenciadas. Por vezes sinto-me desafiado a pinçar algum desses fragmentos e a usá-lo como isca para montar um novo capítulo dessas recordações que já estão ficando 'mais espichadas do que funeral de rico'. Mas a insegurança e o temor em desagradar os benevolentes e fieis leitores prevalecem, e acabam por inibir a vontade impedindo a manifestação deste já um tanto esfalfado intelecto. Destarte, arregimentando energia, tentarei costurar remembranças sobre um outro ''rapa-de-taxo". Uma espécie de espectro de energia constitui esse outro personagem. Constante, fiel e intimamente aderido, impregnando mesmo cada órgão, cada célula e átomo que compõe o esqueleto deste " vivente". Seria como um "duplo-etérico", se bem entendi e recordo dos fundamentos da Doutrina Espírita quando nos ensinava sobre o Perispírito. Até onde pode testemunhar minha memória, esteve sempre a impregnar meu ser e creio percebê-lo paulatinamente melhor à medida em que estreito meu relacionamento com o 'herói da trama'(chronos = o tempo). Essa percepção como que denuncia a carência de uma coexistência, a cada dia mais aferrada, com a mãe terra. Uma velha canção gauchesca, impregnada de telurismo filosófico, sentencia que "quem apaga o próprio rastro não vai a lugar nenhum"( ou algum"?). Estive , em algumas oportunidades, na condição de quem apaga o próprio rastro e considero-me em paz e harmonia com o lugar onde meus dotes de intelecto, esforço, dedicação, perseverança e livre-arbítrio - temperados com algumas pitadas de virtude e de vício - permitiram-me chegar. Tal como referi anteriormente, a maioria de meus amigos conterrâneos e contemporâneos, que devida ou indevidamente poderiam prestar-se como referência, já se bandearam desta existência, alguns deles até mesmo surpreendidos. Decerto nos encontraremos numa outra dimensão e ai ficarão sabendo o motivo do atraso em me ajuntar a eles. Um profundo sentimento de confiança na vida que transcende a nossa percepção se constitui no motor desta etapa concreta de transição e aprendizado. Enquanto espero minha vez, vou tentando acumular informações que possam auxiliar-me a entender melhor o motivo e o porquê desta hospedagem telúrica. Hospedagem essa que acredito não seja apanágio dos humanos mas de todos os seres temporariamente hóspedes da tão sacrificada e desrespeitada mãe-Terra. Não li o texto mas muitas vezes ouvi alusão a certo pensamento oriental que considera realizado o homem que plantou uma árvore, construiu uma casa, engendrou um filho e escreveu um livro. Sem pretender distorcer o rico simbolismo de tal pensamento interpreto que ao plantar uma árvore, estamos apostando no futuro(abrigo, sombra, frutos, madeira para a moradia, meio ambiente). A construção da casa denota o firme propósito de oferecer segurança a nossos filhos, nossa família; é criar raízes, interagindo justamente com a mãe-Terra. Engendrar filho é acreditar em que tudo o que se fez é justo, é correto e deve ser continuado pela descendência. E o livro!. Este se poderia constituir uma espinhosa tarefa, se considerarmos que se o artífice , após realizar as três primeiras tarefas, em sendo analfabeto, ser-lhe-ia vedado escrever o livro. Entretanto não decorre muito tempo desde que o ser humano domina a arte da escrita, pelo menos no Ocidente. Aja vista que nos relatos, muitos considerados fantasiosos, sobre Marco Polo - viajante, mercador e aventureiro europeu, natural de Veneza(1254-1324 )-que embora sendo analfabeto, o Grand- Khan(Kublay-Khan imperador da Mongólia naqueles dias) te-lo-ia tomado como embaixador e lhe confiado delicadas tarefas diplomáticas, entre as quais uma mensagem para o Papa, em Roma. A entrega teria sido ao sucessor interino devido a morte extemporânea do Pontífice. Devemos considerar que para os orientais(chineses, japoneses, árabes) a ausência de caracteres alfabéticos era perfeitamente suprida pelos seus símbolos assim como o foi a escrita cuneiforme para os Assírios e a dos hieróglifos(figuras) para os Egípcios. Consta que os semitas utilizavam-se do árabe modificado(seria transliterado) num dialeto inteligível por eles. Logo não existiria, na visão dos orientais, obstáculo a elaboração de um livro e assim qualquer homem poderia deixar marcada sua passagem no nosso planeta-mãe. E deveria necessariamente ser o registro fiel de sua existência, livre da sombra do próximo e sem lançar neste a sua própria. Quantos homens em nossos dias poderiam ser considerados realizados após concluídas tais tarefas?. A resposta nos pode ser dada pela dimensão do turbilhonado comportamento humano em nossos dias. Obnubilada pela atmosfera saturada de apelo tecnicista que permeia a mente da maior parcela de nossa sociedade, esta queda-se em deslumbrado, desregrado e irresponsável consumismo, sem precedentes na história humana. E está ocorrendo em plena era de avanços e descobertas cibernéticas que tanto têm estreitado as relações sociais. Enxameiam na mídia as mensagens, conselhos e exemplos edificantes propondo moralização e sugerindo um modelo mais harmonioso e sustentável de convívio entre os passageiros ditos racionais com os tidos como irracionais e os outrora definidos como animados e os inanimados. Humanos, animais, plantas e minerais , creio sermos todos irmãos e parceiros nesta viagem a bordo da nave-mãe Terra. Somos constituídos dos mesmos elementos estruturais de nossa mãe. Diferenciamo-nos uns dos outros graças a proporção, variedade e forma como são combinados, incorporados e organizados. "São universais os elementos mas regionais as combinações", no entender do folclorista gaúcho João P. Cortes. E não por acaso mas seguindo as normas, ou leis, estabelecidas pela Inteligência do Supremo Espírito Universal que arquiteta, implementa e provê para a fiel consecução de Sua obra. Procedemos de eras tão remotas que - embora as constantes, milionárias e febris pesquisas e teorias científicas - ainda temos a convicção de muita dúvida . A experiência nos mostra que muitos valores de ontem já são duvidosos hoje. E o amanhã será outro tempo com a realidade existencial do quotidiano. São inúmeros os ângulos de enfoque acerca do mundo concreto mas - no meu pessimismo - somos muito poucos ainda os que verdadeiramente se preocupam com as forças que movem, removem, turbilhonam, deformam e transformam as condições para se ter vida sustentável e com alguma qualidade e dignidade. Sou repetitivo ao afirmar que não sou consumista!. Melhor, não estou consumista. Claro que como aposentado não posso dar-me a esse luxo. Mas, a bem da verdade, nunca fui dissipador de finanças em resposta aos pruridos e apelos mídicos. Graças a Deus, a Inteligência Universal, não me acicata a ambição por adquirir 'referenciais' aparatosos e dispendiosos. Disponho do necessário para levar a carcaça até os últimos dias. Seria mais feliz decerto, se eu não tivesse cometido algumas trapalhadas. Mas agora estou me empenhando em reavaliar meus atos pretéritos e na medida do possivel buscando contrabalançar aquelas derrapadas, algumas até úteis, com atitudes capazes de contribuir para uma sociedade e um mundo melhores. Demagogia à parte. Rogo diariamente à Inteligência Universal para que me auxilie, sempre que possível, a ser cada dia menos ruim. Sinto que está realmente funcionando. É como uma sombra que me acompanha em todos os instantes e lugares. Não será a Verdadeira Luz, ainda, mas as trevas estão sendo, paulatina e afortunadamente dissipadas.
sábado, 10 de dezembro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
BATEU A SAUDADE!...
É isso mesmo!, uma espécie de banzo, vez que outra, vem aporrinhando a hodierna consciência existencialista deste já um tanto calejado vivente. Um bom período de tempo em que, na maior parte, surpreendi-me a perscrutar mentalmente o caminho percorrido para quiçá encontrar alguns rastros ou sinais capazes de denunciar muitas de minhas pretéritas experiências de vida. Em oportunidades várias até a internet me foi, e decerto continuará sendo de valia, mormente agora que já consigo alguma serenidade ao interagir com ela. Busquei em topônimos, em sítios geográficos e mesmo em rincões cujos cenários, em determinadas circunstâncias, terei sido obscuro protagonista. Indaguei a alguns moços e ainda pra outros mais usados. O resultado não se mostrou animador: ninguém conhecia ou sequer ouvira falar no tal "rapa-de-tacho" que , por sua vez, acreditava ou queria fazer crer ter convencido alguns incautos de que tornara-se, com os anos já vividos, detentor de informações e memórias sobre fatos, atos e até de algumas "personas gratas" com quem ombreara, em algum momento, parcelas da existência no longo estradear que demanda o aprimoramento do ser humano. E este aprimoramento - acredito piamente - está continuamente acontecendo desde épocas tão remotas que a mais avançada ciência ainda não conseguiu identificar com precisão, muito embora os baldados empenhos especulativos. Nossos ancestrais aconselhavam 'dar tempo ao tempo'. Outros afirmavam, com uma ponta de erudição, que 'o tempo é o herói da trama'. Presentemente e com alguma freqüência ainda assisto programas cujo tema ocupa-se da investigação da origem e evolução da vida em nosso orbe terrestre. Em momento algum percebi nos ditos cujos a exclusão do 'tempo' do elenco de fatores que comprovadamente presidem a evolução da vida, especialmente a animal, pois a vegetal se me afigura um desafio tanto quanto, ou ainda mais desarvorador. Acredito estar abeberando, ao longo de minha peregrinação nesta existência, informações básicas fundamentais e específicas que contribuem na formação da bagagem que pareço carregar. Bagagem essa tão singela que faz reportar-se minha memória às coisas mais simples da vida. À época de criança e das criancices em que quase tudo se nos acenava possível bastando-nos apenas vencer a linha do horizonte para o que a tenra idade nos parecia o percalço maior, se não o único, no então pueril entender. Daí decerto os motivo e justificativa para as crianças almejarem tão ardentemente 'ficar grandes' para, emancipando-se da 'ditadura' paterna, encetar a busca de suas quimeras. Estas, geralmente eram as mais elementares coisas que foram nossos referenciais nos primórdios em que não dominava a tecnologia. Não sou contra esta mas não suporto a noção de ser dela um irremediável refém. Por natureza sou saudosista inveterado. Fala-se, prega-se, vive-se com a idéia fixa e focada num suposto 'progresso' que nos possa guindar ao nível do primeiro mundo. Afortunadamente não estou solitário nesta experiência; a julgar pelas mensagens que recebo pelo correio virtual, sou tentado a acreditar que outros também padecem da benigna e suave nostalgia. Que progresso é esse que nos desumaniza?. Que evolução é essa que carrega na garupa a semente da indecência, da injustiça, da corrupção?. A miséria moral trasvestida de licenciosidade com a intenção de se passar por liberdade. Mas que liberdade é essa em nome da qual são praticados os maiores excessos; que nem mesmo os animais(irracionais) ao longo de sua romaria evolutiva exerceram em relação a seus parceiros. Aliás, considero de bom alvitre um rápido vislumbre na questão liberdade. Que é ela?. Como se a caracteriza?. Dentre as muitas definições garimpei esta: "faculdade de praticar tudo quanto não é proibido por lei "(A.B.DE HOLANDA FERREIRA, 2a.edição). Decididamente não me satisfaz tal definição que de resto é semelhante a outras, sempre decantadas mas raramente acatadas . Mas que é uma Lei?. Ora uma lei é o mesmo que uma norma, que deveria ser inflexível, dura ou rígida. No antigo Direito Romano concebia-se que DURA LEX SED LEX significava A LEI É DURA MAS É A LEI. Se assim fosse não teria, no meu entender, tantas brechas no texto da dita cuja. Brechas essas cujo objetivo é servir de valhacouto para os experts na arte de 'interpretar' com o intuito de desqualificar atos escusos praticados por aqueles que deveras atuam ao arrepio das normas que caracterizam a ortodoxia dos atos humanos. E tais normas são elaboradas, via de regra, por poderosos(seja um ou um agrupamento deles) em detrimento dos fracos, desestruturados ou humildes que assim quedam-se constrangidos a se submeter aos mais poderosos. A conseqüência mais desastrosa - e é salutar se especule- supostamente decorre do Espírito das Leis(Obra do genial Montesquieu) cuja interpretação compurscada serviu a Monarquia européia, de lá migrando para as colonias de além-mar. Aqui ante a absoluta ignorância dos colonos(muitos degredados) as brechas passaram a ser exploradas sem tédio. Um velho adágio reza que em "terra de cego quem tem um olho é Rei ". Penso que com um olho só nossa visão fica pela metade. De outro modo como explicar o fato de termos sido os últimos a abolir a servidão. A colonização avançou, se perpetuou por mais de três séculos, acabou cedendo lugar a uma 'independência" de mentira, pois até hoje pagamos a dívida dos colonizadores ibéricos junto ao Reino Unido. Se não sabemos pormenores de tal dívida tenhamos a absoluta convicção de que somos sangrados constante e impiedosamente através dos lucros exorbitantes das multinacionais aqui instaladas como postos avançados de seus países de origem. Decerto ao arrepio das normas(leis) que regem as relações comerciais e, como soe ocorrer, favorecem sempre o melhor estruturado, que não é o nosso País. Aqui os investimentos em estrutura básica- educação, saúde, segurança e bem estar social- andam sempre a cabresto da vontade de politiqueiros, políticos e administradores públicos, que, salvo raríssimas exceções, encontram sempre no código de leis um ralo por onde fluem as riquezas do povo e as divisas da Nação!. Boa parcela de nosso povo não sabe ou finge que não sabe para poder alegar ignorância e assim esquivar-se dos supostos 'rigores da lei' ou então permuta seu silêncio por uma cesta básica ou um mísero favor político. Tudo sustentado pela classe trabalhadora produtiva, principalmente da iniciativa privada já que as empresas públicas enriquecem especialmente os políticos e seus amigos representantes de multinacionais, ambos os lados sempre muito bem 'estribados' para negociar 'favores', sob o véu da lei que a população em sua absoluta maioria desconhece, finge desconhecer ou vende a alma para o demônio. Se porventura cair em desgraça ao cometer qualquer ilícito, sendo primário, tiver poder ou referência política e/ou 'grana' certamente desfrutará da 'complacência' das Leis que, em nossos dias, passam a ideia de estarem impregnadas de suposta misericórdia 'cristã'. Pelo menos é isso que se infere na absoluta maioria dos casos em que a arauta mídia nos informa quando, porventura e à revelia de nossa vontade, ligamos o receptor de tevê em busca de informações ou mesmo de algo que ajude a espairecer nossa preocupação com os rumos que nossa sociedade pode tomar inspirada nos desastrosos exemplos de debilidade moral, ética e queda de auto-estima decorrente da escalada da violência e de toda sorte de vícios e morbidades. Percebe-se, na contra-mão, em vicioso alarde a retórica irresponsável e corrupta sobre investimentos em serviços fundamentais(saúde, educação e segurança) que, muito embora eleitoreiros, não logram sucesso no tocante a desenvolver uma consciência gregária capaz de catapultar nossa sociedade a níveis satisfatórios. É direito e dever que assistem a cada um de nos, e à população como um todo, eleger livre e conscientemente lideranças austeras capazes de construir o rumo justo e acertado, condizente com o requerido para um País de cinco séculos, dotado de todas as condições naturais para o progresso e convivência feliz e harmoniosa de um povo laborioso e ordeiro . É sobejamente conhecido o poder que exerce sobre nosso imo psico-espiritual, e bem assim a capacidade potencial de desencadear ou agravar tantos estados enfermiços quanto mais forte for a depressão sobre nossa auto-estima. Não tenho como provar que assim é mas também ainda não me defrontei com alguém capaz de demonstrar o contrário. Posso assegurar, entretanto, com a convicção dos justos que embora os nossos sentidos pareçam não perceber a sutileza das coisas não significa inexistência das mesmas. Assim creio que podemos perceber o Onipotente Espírito Universal através de Sua Justiça e Leis que regem os reinos da natureza. Numa época marcada pela febricitante euforia e ânsia por adquirir referenciais concretos, usá-los ou consumi-los não resta espaço nem ambiência para que possamos refletir sobre os mais sublimes preceitos divinos. Preceitos esses já quase totalmente olvidados pelas gerações , principalmente as mais jovens. Também muitos dos idosos de nossos dias já não cultivam a piedosa virtude de religiosidade tão salutar em outros tempos em que o apelo ao consumo desenfreado de toda a ordem não exercia esse efeito de deslumbramento, mormente sobre os mais moços. Mesmo nos dias áureos em que detive poder para ser consumista inveterado jamais o brilho do nobre metal ofuscou-me de maneira a embotar minha visão para tomar a atitude mais conveniente. Desde criança sou , sem muito esforço, um tanto comedido no gozo dos bens materiais. É certo que naqueles dias, de meados do século vinte, o apelo da mídia não tinha a força e o poder dos dias atuais. Devia ser proporcional às condições reinantes então: maioria da população analfabeta e muito mal informada. As primeiras letras, já registrei antes, as recebi- juntamente com meus irmãos imediatamente mais velhos- de nossa mãe, junto com as primeiras noções de religião. Terá sido decerto o doutrinamento familiar, desde o berço, que formatou o modelo de vida a ser cultivado e o caminho que trilharíamos. O progresso da mídia cibernética não fez-se simultâneo com a realidade da maioria de nosso povo. Três séculos de colonialismo- em que não interessava ao usurpador esclarecer nem facilitar a vida dos colonos e sua família- consolidou o marasmo e aprofundou as raízes do nosso atraso de toda a ordem. A passagem bíblica "....e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", ilustra esplendidamente a questão abordada. Não é de se estranhar, portanto, que num povo com tão deprimentes indicadores de evolução social, grande parte da população venha a desenvolver pendores inspirando-se em supostos exemplos oferecidos por alguns meios de comunicação. Estes, com performance de primeiro mundo, amiúde veiculam conteúdos com mensagens dúbias cujo significado grande parte da população não entende ou acaba traduzindo segundo o entendimento de seu perturbado espírito. Do seio dessa população saem nossos mestres. Se estes tiveram uma formação débil ou deficiente obviamente que irão transferir para seus filhos e alunos as deficiências de sua própria formação. E ainda existe a concreta possibilidade de que 'aquilo que eu não tenho em casa vou buscar fora'. Este 'fora' tanto pode ser na rua onde circulam os mais variados tipos de espíritos encarnados como também pode ser a própria escola com um mestre não convenientemente preparado. Ou ainda no convívio com colegas e amigos cujo ambiente familiar não é dos mais adequados para a salutar formação das jovens cabeças que amanhã poderão ser nossos líderes, perpetuando a desgraça. Talvez tenha sido essa realidade que inspirou o saudoso Vinicius de Moraes a poetar considerando que "...são demais os perigos desta vida". Talvez, pois como posso ter certeza do que passa na cabeça dos poetas, especialmente desse que imortalizou e difundiu a imagem da Garota de Ipanema, entre tantas outras canções que auxiliam a projetar as belezas da cidade do Rio de Janeiro, cartão postal de nosso País. Creio ter ouvido essa música pela primeira vez há um meio século. Era rapazote mui tímido, de maneira que me sentia corar de vergonha, nas primeiras vezes quando ouvia esse expoente da MPB, na presença das moçoilas. Naqueles dias nossa música começava a tirar o fôlego dos tangos e boleros oriundos da região platina. O grande Vicente Celestino também dava sinais de que não iria muito mais além. Em que pese a força de sua esposa Gilda de Abreu dirigindo, o filme homônimo de O Ébrio, não deslanchou. Entretanto a música era bem difundida nas emissoras de rádio de minha região. Reuniões dançantes com bingos, festas políticas e religiosas, quermesses, parques de diversões e espetáculos circenses eram animadas com a música de Vicente Celestino. Alguns amigos mais atualizados, e até por exibicionismo, vez que outra recitavam os versos da Garota de Ipanema. Longe de ser unanimidade naqueles dias, a letra da música gerava um certo prazer constrangedor quando víamos na Praia dos Dourados- no rio Santa Maria, ou nas ruas de Cacequi- uma beldade amiga ou namorada de um amigo, desfilar um belo par de coxas e pernas, escolhendo cuidadosa e graciosamente onde apoiar os pés. Eram dias em que dançar junto não dava margem a 'amassos' pois a direção do clube logo acudia em nome da postura e dos bons costumes sociais. Entre a rapaziada até era praxe a expressão 'dançar de par constante' ou ' incostante', mas sempre levando em consideração a possibilidade de a moça ser casadoira. Não é demais repetir- especialmente nestes dias em que mascarados se infiltram nas passeatas e manifestações públicas- que nos bailes de carnaval daquela época, um mascarado ou vestindo dominó, era convidado a comparecer ante a direção do clube para identificar-se e só assim poder participar da folia. Mas estas coisas já estão meio século desatualizadas restando-me, tão somente, a possibilidade de recordar e, silenciosamente, questionar como me haveria de portar, se jovem fosse, numa sociedade cujos costumes salutares e princípios morais e éticos se apresentam tão débeis e confusos.
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