sábado, 10 de dezembro de 2011

A SOMBRA !








































































































































































































































































































































Ao longo do relato, já um tanto engrolado de minhas Memórias, ocasionalmente deparo com alguns retalhos ainda reminiscentes de situações vivenciadas. Por vezes sinto-me desafiado a pinçar algum desses fragmentos e a usá-lo como isca para montar um novo capítulo dessas recordações que já estão ficando 'mais espichadas do que funeral de rico'. Mas a insegurança e o temor em desagradar os benevolentes e fieis leitores prevalecem, e acabam por inibir a vontade impedindo a manifestação deste já um tanto esfalfado intelecto. Destarte, arregimentando energia, tentarei costurar remembranças sobre um outro ''rapa-de-taxo". Uma espécie de espectro de energia constitui esse outro personagem. Constante, fiel e intimamente aderido, impregnando mesmo cada órgão, cada célula e átomo que compõe o esqueleto deste " vivente". Seria como um "duplo-etérico", se bem entendi e recordo dos fundamentos da Doutrina Espírita quando nos ensinava sobre o Perispírito. Até onde pode testemunhar minha memória, esteve sempre a impregnar meu ser e creio percebê-lo paulatinamente melhor à medida em que estreito meu relacionamento com o 'herói da trama'(chronos = o tempo). Essa percepção como que denuncia a carência de uma coexistência, a cada dia mais aferrada, com a mãe terra. Uma velha canção gauchesca, impregnada de telurismo filosófico, sentencia que "quem apaga o próprio rastro não vai a lugar nenhum"( ou algum"?). Estive , em algumas oportunidades, na condição de quem apaga o próprio rastro e considero-me em paz e harmonia com o lugar onde meus dotes de intelecto, esforço, dedicação, perseverança e livre-arbítrio - temperados com algumas pitadas de virtude e de vício - permitiram-me chegar. Tal como referi anteriormente, a maioria de meus amigos conterrâneos e contemporâneos, que devida ou indevidamente poderiam prestar-se como referência, já se bandearam desta existência, alguns deles até mesmo surpreendidos. Decerto nos encontraremos numa outra dimensão e ai ficarão sabendo o motivo do atraso em me ajuntar a eles. Um profundo sentimento de confiança na vida que transcende a nossa percepção se constitui no motor desta etapa concreta de transição e aprendizado. Enquanto espero minha vez, vou tentando acumular informações que possam auxiliar-me a entender melhor o motivo e o porquê desta hospedagem telúrica. Hospedagem essa que acredito não seja apanágio dos humanos mas de todos os seres temporariamente hóspedes da tão sacrificada e desrespeitada mãe-Terra. Não li o texto mas muitas vezes ouvi alusão a certo pensamento oriental que considera realizado o homem que plantou uma árvore, construiu uma casa, engendrou um filho e escreveu um livro. Sem pretender distorcer o rico simbolismo de tal pensamento interpreto que ao plantar uma árvore, estamos apostando no futuro(abrigo, sombra, frutos, madeira para a moradia, meio ambiente). A construção da casa denota o firme propósito de oferecer segurança a nossos filhos, nossa família; é criar raízes, interagindo justamente com a mãe-Terra. Engendrar filho é acreditar em que tudo o que se fez é justo, é correto e deve ser continuado pela descendência. E o livro!. Este se poderia constituir uma espinhosa tarefa, se considerarmos que se o artífice , após realizar as três primeiras tarefas, em sendo analfabeto, ser-lhe-ia vedado escrever o livro. Entretanto não decorre muito tempo desde que o ser humano domina a arte da escrita, pelo menos no Ocidente. Aja vista que nos relatos, muitos considerados fantasiosos, sobre Marco Polo - viajante, mercador e aventureiro europeu, natural de Veneza(1254-1324 )-que embora sendo analfabeto, o Grand- Khan(Kublay-Khan imperador da Mongólia naqueles dias) te-lo-ia tomado como embaixador e lhe confiado delicadas tarefas diplomáticas, entre as quais uma mensagem para o Papa, em Roma. A entrega teria sido ao sucessor interino devido a morte extemporânea do Pontífice. Devemos considerar que para os orientais(chineses, japoneses, árabes) a ausência de caracteres alfabéticos era perfeitamente suprida pelos seus símbolos assim como o foi a escrita cuneiforme para os Assírios e a dos hieróglifos(figuras) para os Egípcios. Consta que os semitas utilizavam-se do árabe modificado(seria transliterado) num dialeto inteligível por eles. Logo não existiria, na visão dos orientais, obstáculo a elaboração de um livro e assim qualquer homem poderia deixar marcada sua passagem no nosso planeta-mãe. E deveria necessariamente ser o registro fiel de sua existência, livre da sombra do próximo e sem lançar neste a sua própria. Quantos homens em nossos dias poderiam ser considerados realizados após concluídas tais tarefas?. A resposta nos pode ser dada pela dimensão do turbilhonado comportamento humano em nossos dias. Obnubilada pela atmosfera saturada de apelo tecnicista que permeia a mente da maior parcela de nossa sociedade, esta queda-se em deslumbrado, desregrado e irresponsável consumismo, sem precedentes na história humana. E está ocorrendo em plena era de avanços e descobertas cibernéticas que tanto têm estreitado as relações sociais. Enxameiam na mídia as mensagens, conselhos e exemplos edificantes propondo moralização e sugerindo um modelo mais harmonioso e sustentável de convívio entre os passageiros ditos racionais com os tidos como irracionais e os outrora definidos como animados e os inanimados. Humanos, animais, plantas e minerais , creio sermos todos irmãos e parceiros nesta viagem a bordo da nave-mãe Terra. Somos constituídos dos mesmos elementos estruturais de nossa mãe. Diferenciamo-nos uns dos outros graças a proporção, variedade e forma como são combinados, incorporados e organizados. "São universais os elementos mas regionais as combinações", no entender do folclorista gaúcho João P. Cortes. E não por acaso mas seguindo as normas, ou leis, estabelecidas pela Inteligência do Supremo Espírito Universal que arquiteta, implementa e provê para a fiel consecução de Sua obra. Procedemos de eras tão remotas que - embora as constantes, milionárias e febris pesquisas e teorias científicas - ainda temos a convicção de muita dúvida . A experiência nos mostra que muitos valores de ontem já são duvidosos hoje. E o amanhã será outro tempo com a realidade existencial do quotidiano. São inúmeros os ângulos de enfoque acerca do mundo concreto mas - no meu pessimismo - somos muito poucos ainda os que verdadeiramente se preocupam com as forças que movem, removem, turbilhonam, deformam e transformam as condições para se ter vida sustentável e com alguma qualidade e dignidade. Sou repetitivo ao afirmar que não sou consumista!. Melhor, não estou consumista. Claro que como aposentado não posso dar-me a esse luxo. Mas, a bem da verdade, nunca fui dissipador de finanças em resposta aos pruridos e apelos mídicos. Graças a Deus, a Inteligência Universal, não me acicata a ambição por adquirir 'referenciais' aparatosos e dispendiosos. Disponho do necessário para levar a carcaça até os últimos dias. Seria mais feliz decerto, se eu não tivesse cometido algumas trapalhadas. Mas agora estou me empenhando em reavaliar meus atos pretéritos e na medida do possivel buscando contrabalançar aquelas derrapadas, algumas até úteis, com atitudes capazes de contribuir para uma sociedade e um mundo melhores. Demagogia à parte. Rogo diariamente à Inteligência Universal para que me auxilie, sempre que possível, a ser cada dia menos ruim. Sinto que está realmente funcionando. É como uma sombra que me acompanha em todos os instantes e lugares. Não será a Verdadeira Luz, ainda, mas as trevas estão sendo, paulatina e afortunadamente dissipadas.