terça-feira, 18 de maio de 2010

O MICRO E O MACROCOSMO.

  • Ufa!, finalmente consegui desembaraçar-me da audaciosa 'investigação do insondável'. Através dessa forma de divagação procurei esboçar um tanto discretamente a performance de grande parte de minha experiência como ser humano. Mais precisamente como Microcosmo em face ao intrincado e incomensurável Macrocosmo. Revendo minhas memórias desde aquelas referentes à infância marcada por cenas e atos rudimentares, nas Estradas de Belém, não pude deixar de me identificar no papel de integrante na formação do grupo familiar que estava contribuindo, naquelas circunstâncias, para um futuro bem mais abrangente da sociedade brasileira, a qual por sua vez viria a influenciar na esfera mundial. Dias virão em que serão amplamente difundidas as noções de que cada um ser humano consciente constitui, na realidade, a 'unidade funcional fundamental cósmica'. Já o é em nossos dias atuais, decerto. Entretanto os inúmeros interesses de ordem política, social e econômica não encorajam muitos inescrupulosos e despreparados líderes da humanidade a reconhecer e fazer difundir a importância do ser humano bem estruturado na harmonia planetária e cósmica. Algumas nações mais habilidosas enriqueceram ao explorar com sucesso outras mais novas e menos experientes. Assim transformaram-se em potências econômicas, políticas e militares. São esaas mesmas que desde a algumas décadas vêm sustentando bilionários programas de exploração do espaço inter-planetário, em renhida competição na busca do domínio espacial. Um dos objetivos dessa demanda, alegam, seria encontrar planetas cujas condições possam permitir a vida humana se perpetuar quando as Terrenas se tiverem exaurido. Nosso satélite natural, a Lua, já foi descartado quando se lhe diagnosticaram falta de tais condições. O objetivo agora está focado em Marte. Em alguns decênios, poderá ser Júpiter, Saturno ou Netuno o planeta investigado para hospedar o industrioso, irreverente e inconseqüente Homo sapiens hodierno. Caminha assim nossa humanidade. Muitas regiões de nossa Terra são desertas, outras assim estão injustificavelmente. Haja vista em grande parte do território de Israel, e principalmente dos Países Baixos, cujas costas marítimas foram transformadas em férteis áreas agrícolas. Nosso Brasil não ficou atrás na prática de aterrar o mar. A bela 'cidade maravilhosa' do Rio de Janeiro tem aproximadamente um quinto de sua área urbana ganha ao mar, através de aterros. Diferentemente, porém, ali preferiu-se 'plantar' edifícios de apartamentos visando a exploração imobiliária, com o conseqüente aumento da capacidade de fixação humana na orla marítima. Assim fica mais fácil lançar dejetos e contaminar com lixo a matriz fluida cujo seio nutriu a primeira molécula orgânica- constituinte do primordial 'trilobita', da era Paleozóica, referida por notáveis cientistas evolucionistas- que por sucessivas metamorfoses teria originado o 'Homo sapiens' que hoje a agride impiedosa e quase impunemente, pelo menos por enquanto. Mas, creio, é questão de tempo. As leis da Natureza são inflexíveis, tardam mas não falham. Quem viver verá!. E verificará a dimensão do equívoco humano que, ainda sem conhecer a plenitude do mar onde originou sua vida, ousa aventurar-se agora no espaço cósmico, buscando um outro planeta capaz de o hospedar e, como recompensa, vir no futuro sofrer a destruição, a exemplo do que vem hoje ocorrendo com nossa mãe Terra. Fato esse que está tirando o sossego de muitos 'terráqueos'. Entre esses me encontro!. E quase sem perceber, me enredava em novas divagações, quando , 'en passant', abordei a contaminação por dejetos que costumamos lançar na orla marítima. Este fato mexeu com restos de memória dos anos em que eu realizava análises clínicas. Recordei da Parasitologia Clínica. Particularmente do Exame Coprológico como é conhecido, no âmbito profissional, o exame de fezes. Por sinal um exame muito valioso para o interessado, atento e experiente Clínico que no laudo certamente saberá decifrar informações indicativas de normalidade ou de irregularidade na saúde do indivíduo. Com freqüência o médico requisita esse exame com o fito de orientar-se, ou como auxiliar na elucidação da queixa manifestada pelo paciente. Para isto é imperioso que o Laudo laboratorial seja confiável. E criterioso. Em nosso laboratório eu costumava enfatizar que o 'exame começava com a orientação para obter a amostra do material a ser examinado, e terminava no momento em que o resultado era entregue ao paciente'. Assim as instruções oferecidas ao candidato deviam ser muito claras e seguidas à risca. Por vezes diante da aparente dúvida por parte do paciente, eu questionava se me havia feito entender. Era freqüente pedir que repetissem os pontos considerados obscuros, que alegavam não entender nas instruções verbais, e mesmo nas escritas. Creio que alguns até deixaram de realizar exames comigo por julgarem-me demasiado impertinente até com 'um simples exame de fezes'. Pode parecer simples mas requer certos cuidados, perícia e até discrição. Como justificar, por exemplo, a presença de espermatozóides em material escatológico. Era imprescindível conseguir outra amostra com todos os cuidados exigíveis para não haver contaminação na coleta. Deste modo podia-se evitar até constrangimentos, naqueles dias. Era norma no nosso serviço. Minha esposa adotou tal costume e secundava-me nos procedimentos, desde o agendamento, recepção das amostras com identificação rigorosa, exame qualitativo e preparação das mesmas para eu realizar a microscopia, e finalmente o 'rascunho' dos Laudos pertinentes. Meu filho, já referi, datilografava o resultado dos ditos cujos e os encaminhava ao meu crivo e assinatura, se estivesse de acordo. Às vezes eu rejeitava alguma letra batida em cima de outra e inutilizava o trabalho, requerendo outro resultado sem rasuras. Não era raro determinado resultado chamar minha atenção. Neste caso eu repetia o exame, ou então solicitava ao paciente a gentileza de comparecer com nova amostra. Com freqüência não o faziam sorrindo. Algum até desvirtuava minha atitude, julgando tratar-se de negligência profissional. E isto que, por vezes, ao agitar o tubo de ensaio para homogeneizar o material respingava gotículas em meu avental, e até no meu bigode que, por coincidência, também era de cor castanho!. Noutras oportunidades eu acabava 'desopilando' minha frustração com a esposa ou com o filho que no geral, nada tinham a ver com a responsabilidade profissional que era apanágio meu. Outras vezes, ante a 'pressão' do doente ou seu familiar, o médico solicitava uma série de exames e condicionava seu veredicto ao recebimento dos resultados dos exames. A minha responsabilidade então aumentava e as cobranças também. Foram vários anos sob esse clima de tensão. Para agravar o Instituto(I.N.A.M.P.S.) começou a pagar cada vez menos pelos procedimentos e sempre com abusivos atrasos. Por essa época meu filho já se determinava. Cursava a Escola Técnica, à noite, em Pelotas. Nas folgas dos afazeres escolares e do Laboratório, praticava violão para o qual revelou talento desde a primeira lição. Num belo dia informou-nos que não iria trabalhar mais conosco no Laboratório. Não queria a Área da Saúde. Abraçaria a de Comunicações. Começou a mexer com radio-difusão na emissora local e depois na cidade de Rio Grande. Intensificou seu interesse pelo violão e a música gauchesca. Teve algumas aulas de violão solo que o credenciaram a fazer um 'recital' com músicas clássicas incluindo F. Lizst, E. Nazareth e outros que a memória não resgata. Participava, também, em Festivais de Música Nativa, apoiado pelo CTG da Escola Técnica. Juntamente com os amigos e colegas Danúbio, Fabian e Pedro Umberto formaram o conjunto 'CIO DA TERRA' que participou de vários eventos nativistas de nossa micro-região. Paralelamente com essas ocupações, concluiu o curso técnico de Eletrônica e decidiu prestar serviço militar na Aeronáutica, em Santa Maria. Desfez-se o 'Cio da Terra'. Nas folgas da caserna visitava-nos e matávamos saudade de quando saíamos a passear nos feriados e fins-de-semana em que não trabalhávamos. Apreciava tomar banhos no 'passo novo', rio Piratini, em cujas margens, à sombra de frondosas e copadas guabirobeiras saboreávamos 'macanudos' churrascos. Algumas vezes explorávamos a zona rural do município, principalmente o Cerrito, que à época, ainda pertencia ao município de Pedro Osório. Foi numa dessas oportunidades que decidimos subir até o alto do morro 'Cerro Pelado', marco geográfico histórico do município e da região, onde estão instaladas antenas de TV e de onde tem-se uma bela visão panorâmica da planície e do aglomerado urbano Cerrito/Pedro Osório dividido em dois núcleos pelo rio Piratiní que ainda conservava, em parte de suas margens, restos de vegetação ciliar e alguns raros exemplares de mata nativa. Na descida do morro- por uma acanhada estradinha 'carreteira', cuidadosamente pra não sacrificar a suspensão do nosso feroz Passat 1.8, de cor 'azul-copa', modelo 1.984- um inusitado fato aconteceu: uma codorniz se assustou e alçou um vôo rasante indo se chocar com o fio da cerca próxima, lateral a 'carreteira'. Estacionei o 'feroz' e fui conferir. Encontrei o pássaro morto. Havia se degolado no fio de arame. Possivelmente se assustou com a presença do nosso Passat que tinha fama de 'venenoso'. Concluímos que se esquivou do carro mas descuidou da cerca. Admitamos que até os bichos têm uma hora boba. Proponho-me a associar esse pequeno incidente, não devido ao acaso, mas a fatalidade ante a Lei das Probabilidades. Quando moleque, ainda na 'campanha', assisti várias codornizes se enforcarem em laçadas de linha de pescar estrategicamente armadas, pelo irmão mestre-padeiro, em portinholas abertas a certos intervalos em pequenos 'cercados' tramados com 'caniços' de taquara e alecrim. Depois espalhava-se alguns grãos de cereais, inclusive próximo às laçadas; aguardava-se a 'penosinha' aproximar-se e, no momento exato em que ela pisava a laçada a enxotávamos. Ela tentava alçar vôo e o 'enforcamento' era mais comum do que se possa imaginar. Esse método nos rendeu várias 'passarinhadas', quase sempre que nossa Santa Mãe velha estava ausente com nossas irmãs. Coisas do 'mundinho' 'guri', microcosmo infantil que o 'macrocosmo' adulto, que não vivenciou, não podia entender nem aceitar naqueles dias cada vez mais distantes e já bastante esmaecidos na memória.

Um comentário:

Pauta Cifrada disse...

Bah! A prosa que andava ausente se veio a la cria... E de longe. Pariu-se nas profundezas das galáxias... fez pousada no mundo microscópico do bigode e desfaleceu degolada no último fio do alambrado.

É aí que eu me refiro, como diria o Joca!