Quando o calendário apontava para algum feriadão ou data especial, nos programávamos para esticadas mais longas. Dia das Mães era sempre passado em Santa Maria, com as amadas, enquanto viveram. Natal e Ano Novo costumávamos alternar: no ano cujo Natal passávamos com elas, necessariamente o Novo Ano seria iniciado em Pedro Osório. Ano seguinte invertíamos. Desta maneira jamais deixei a comunidade pedro osoriense sem atendimento laboratorial por mais de três ou quatro dias, exceto por falta de energia elétrica e quando fui hospitalizado, conforme já relatei. Noutras oportunidades visitávamos Caxias do Sul, a bela e progressista 'Pérola das Colônias', onde residiam os pais de meu amigo Luis Fernando- médico que mais tarde se transferiu para Macapá, capital do Amapá. Uma visita rápida a Bento Gonçalves, "capital do vinho" e notável 'pólo moveleiro' de nosso Estado . Depois de um saboroso galeto com polenta, precedido pela tradicional sopa de 'capeletti' descíamos para Garibaldi, a capital do 'champagne' naqueles dias. Em outras oportunidades saíamos de Santa Maria , percorrendo a BR287, conhecida como 'rota do sol' que inicia em São Borja, na região missioneira e vai para o litoral norte gaúcho. Passávamos ao largo da bela Santa Cruz do Sul, cidade de colonização germânica muito industrializada e sede da Festa Nacional do Fumo. Aqui está uma das mais atraentes igrejas lembrando o estilo gótico, no Brasil. Adiante passávamos no meio da promissora Lajeado, também de influência alemã e rumávamos pra Caxias do Sul onde geralmente chegávamos ao anoitecer. Não íamos dormir sem saborear a sopa de 'anioline' da Churrascaria Imperador. Geralmente nos hospedávamos no hotel Itália, quase na frente desse restaurante. Na manhã seguinte demandávamos a 'rota das hortências', passando pela típica e hospitaleira Nova Petrópolis . Se o viajante tiver sorte poderá maravilhar-se com o cenário das alamedas floridas que emolduram a estrada até São Francisco de Paulo, depois de Canela. Almoço em Gramado e rápida visita ao Lago Negro em Canela. Hoje existem inúmeras outras atrações, difíceis de visitar em um só dia. Naquela época essas duas pequenas cidades ainda não estavam no Primeiro Mundo( idh próximo de 1), o turismo apenas começava a engatinhar e a Distribuição de Kikitos ainda não decolara com o cinema nacional, como podemos verificar nos Festivais de Cinema de Gramado, tão concorridos hoje. Cedo da tarde rumávamos para a Capital, onde com freqüência nos hospedávamos na casa da família Ricardo Ziebner / Juraci, nossos velhos amigos desde a década de 60/70, quando viveram em Santa Maria. Muito alegres, dispostos e ótimos anfitriões não nos deixavam sossegar. Sempre tinham uma nova churrascaria para nos apresentar, quando não estavam dispostos a preparar o próprio churrasco, no que o 'Ricardão' era mestre. Ou então um passeio com direito a banho em cascata de água natural, na serra onde tinham uma propriedade para veranear. Continuavam trabalhando em vendas. E de vento em popa como sempre, graças a Deus. Moravam em uma bela casa, do gosto e propriedade deles. Merecedores do sucesso, pois, como já falei, eram os melhores no que faziam. Que eu conheci, é claro. Morava com eles a querida NILDA , mãe da Juraci e sogra-mãe do Ricardão. Seus filhos DEDÉIA e RICARDINHO muito bem educados, eram bons amigos do meu herdeiro. Gostavam de bichos. Entre outros tinham canários, papagaios, gatos e cachorros. Estes 'adestrados', como costumava acontecer com os bons 'deutsch'. Tinham até um macaquinho que atendia pelo nome de 'kako' e que possivelmente, pela irreverência, resolveram oferecer de presente pro meu filho. Esse pitecóide a que já referi ligeira e anteriormente, tornar-se-ia como um quarto membro da minha família. Era verdadeiramente um espetáculo o Leontopithecus(mico-leão cinzento) que passamos a chamar de 'kakito'. O 'primata' mirim estava sempre atento a tudo e a todos. Certa vez deixamos a gaiola aberta, ele saiu e se perdeu nos galhos de um frondoso 'camboatã' que tínhamos próximo e nos fundos de nossa moradia. Ouvíamos seus gritos e o chamávamos mas só desceu pra sua gaiola à noite. Aos domingos ou feriados enquanto eu aprontava e 'biliscava' o churrasco, na sombra da grande árvore, ele ficava bem exaltado, pulando de um lado pra outro na sua 'casa' com laterais em tela de arame fino. Lá pelas tantas, depois de eu lhe oferecer um 'fragmento' de carne assada ele se acalmava. E aí o melhor do espetáculo era vê-lo segurar a pequena 'amostra' de alimento com as duas mãozinhas e roer, degustando o churrasco alegremente. Meu filho, ajuizadamente, não gostava do espetáculo e me reprovava pelo mesmo: " pai não dá carne pro bichinho, não é alimento dele". Eu retrucava dizendo que aquele sim era meu grande companheiro. Não oferecia cerveja pro meu 'semelhante'. Vá que ele gostasse. Já pensou sustentar um 'pau de água' daquele porte e ainda nervoso como era. Quando viajávamos pra Santa Maria, não ia conosco mas lhe deixávamos suficiente suprimento alimentar. Não o deixávamos com estranhos. Fazia o maior sucesso com todos quantos nos visitavam. Viveu uns dois anos tranqüilamente. Dormia dentro de uma manga de blusão de lã nas noites invernais. Amanhecia com os cabelos desgrenhados e , às vezes, com os olhos lacrimejando e purulentos. Certa manhã de intenso frio, no rigoroso inverno de 83, não resistiu e morreu. Os entendidos afirmavam ter sido de pneumonia, vez que a espécie sendo de clima com temperaturas mais amenas, não resiste ao frio extremo. Ainda uma vez nos abraçamos com nosso filho e choramos pela perda do 'kakito'. Tivemos ainda um casal de periquitos . A fêmea morreria também de frio. O machinho sentindo-se só começou a se interessar pelas 'lições' que eu lhe oferecia. Certa manhã apareceu desbicado. Trancara o bico entre os fios de arame da gaiola, decerto. Nos o alimentávamos, então, com mingau grosso de farinha de cereais, em conta-gotas, suplementado com vitaminas próprias para passarinhos. Recuperou-se parcialmente pois ficou com a ponta do bico truncada. Recuperado na forma física ficou muito dócil e grande amigo. Pela manhã eu o chamava para ir tomar café na mesa. Abria a portinhola da gaiola, com o que lhe restara do bico, e voava pra cima da mesa. Aí passando por cima de tudo, subia no meu braço e esperava que lhe oferecesse pão molhado no café, na ponta da língua. Depois que o 'papinho estava estufado' voltava pra sua casa. Outras vezes subia no ombro de minha esposa e ao ouvido dela pedia bem baixinho "da papá pra cocóta". Certa tarde já ao escurecer me viu na cozinha , através da vidraça. Chamei-o com o assobio e ele deixou a gaiola na minha direção. Creio que ao lusco-fusco do anoitecer se confundiu e em vez de pousar no meu ombro, passou direto e foi pousar numas folhagens ali próximo. Procuramos e chamamos, à exaustão, sem resposta. O instinto os desaconselha a usar sua voz no escuro. Proteção contra os predadores. Nos dias seguintes não retornou. Perdeu-se ou algum guri vizinho o adotou, para nossa tristeza. Não tivemos mais bichos de estimação, desde então. Numa oportunidade dessas talvez cedamos à tentação de ter outros amiguinhos. Nunca nos interessamos pelo 'maior amigo do homem'. Consideramos que o cão é muito exigente em cuidados, além de um apego ainda maior pela relação de amizade que desperta. Quanto ao gato, por ser sorrateiro , silencioso e traiçoeiro, faz-se 'independente' e, seu apego visa principalmente ao bem estar que o 'amigo' humano lhe proporciona. Se a situação se complica ele pode roubar e fugir pra salvar a própria pele. Afinal ele é tido como 'dotado de sete vidas', né?. O cão, contrariamente, é capaz de acompanhar o amigo até nas piores situações, com risco da própria vida. Por isso terá sido guindado a 'cão de guarda', ao passo que não tenho informação do emprego dos 'bichanos de guarda'. Mesmo por que para isso estariam prejudicados pelo porte físico, na maioria dos casos. Mas há que se levar em conta a máxima 'tamanho não é documento'. Respeito os felinos mas, pessoalmente, não me identifico com o modus operandi , da maioria dos que acho que conheço.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
eheheheh... ainda vejo aos ontes por aqui, correndo pelos fios de telefone dos bairros arborizados.
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