segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

NADA CAI DO CÉU

Os dias que se sucederam foram de intensa atividade para minha pequena família. Inicialmente tratamos de acomodar nossos móveis e demais pertences, distribuindo-os de acordo com o espaço físico que a casa nos oferecia. Espaço esse que nos deixava muito a desejar. Guardávamos ainda presente na memória a estrutura de nosso chalé e de como o havíamos redimensionado quando o ocupáramos, a alguns anos passados. Esta moradia por não ser nossa propriedade e ser construída toda em alvenaria não nos deixava muitas alternativas. Com algumas modificações permitidas pelos móveis conseguimos arranjá-los da maneira que nos pareceu mais agradável e conveniente. O 'fuscão' fora contemplado com um acanhado abrigo, a guisa de garagem, só pra ele. Passo seguinte seria montar o Laboratório. Área física já fora providenciada. Funcionaria nas dependências da Santa Casa. Mais precisamente ao lado do Serviço de Pronto Socorro que também estava sendo estruturado naqueles dias. Em uma de minhas viagens antes da mudança, eu contratara a reforma e pintura das peças que seriam adaptadas ao uso do Serviço Laboratorial. Estava tudo pronto e assim tratamos de instalar os equipamentos e mobiliário. Este também fora providenciado previamente . Após alguns testes para verificação do funcionamento dos aparelhos e reagentes e, de posse da Licença Inicial para funcionamento, concedido pela Secretaria Municipal de Saúde local, decidimos que era chegada a ora de iniciarmos. Minha esposa me auxiliou durante a maior parte do tempo, desde os primeiros dias. Anos mais tarde também nosso menino nos auxiliaria escrevendo o resultado dos exames. Para isso fizera um curso e tornara-se exímio datilógrafo. Gradativamente a demanda pelo serviço começou a aumentar. Não aconteceu imediatamente, como eu esperava. Não me haviam revelado que um Laboratório Clínico da vizinha cidade de Pelotas mantinha um Posto de Coleta no interior da Santa Casa. Como a coleta era feita duas vezes por semana e os resultados só eram entregues nessas oportunidades decidi explorar o preenchimento dos espaços representados pelos dias em que aquele Laboratório não fazia coleta. Explorei também a possibilidade de atendimento de Urgência e à domicílio, com os resultados sendo entregues no menor espaço de tempo possível. Com esse atendimento diferenciado passei a constituir referência. Algum tempo depois o Laboratório de Pelotas desativou o posto de coleta. A grande maioria dos clientes era associada do INSS (INPS, naqueles dias do Governo Militar) que representava a maior parcela da demanda, e aditivamente, ainda pagavam razoavelmente pelos serviços prestados. Em poucos anos a decantada 're-democratização' tornaria inviável o convênio. De quando em vez surgia um serviço particular, na forma de "chek-up". Não era como esperávamos. Mas era sempre um diferencial e constituía um incentivo a continuar batalhando o credenciamento para atender o Instituto. Inexperiente na administração da relação com convênios tratei de oferecer a todos os pacientes a mesma presteza no atendimento. Em pouco tempo pacientes associados da Previdência Social queriam as mesmas regalias que os particulares. Tive que admitir moças que depois de treinadas me auxiliavam no laboratório. Surgiu a folha-de-pagamentos de empregados e, com ela todos os encargos sociais previstos em lei. Nos primeiros tempos, atendíamos os associados do INPS através da Santa Casa que embora não tendo o seu próprio, contava com o meu Laboratório. Nos completávamos. Quando o Instituto pagava a conta hospitalar a Santa Casa repassava-me os valores referentes aos exames. Mas ainda estava faltando eu atender os associados do INPS que não eram hospitalizados. Para isso providenciei a montagem do processo de petição visando o Credenciamento Pleno, para eu poder atender pacientes ambulatorias(externos) e hospitalizados. Tudo pronto, de conformidade com as normas de exigência. Era só aguardar, prometiam. Ao cabo de longo período de espera concluí que além das exigências já satisfeitas me estava faltando "Q.I.". Nessa época eu andava ainda mais impaciente. Tinha prestações do carro e da aparelhagem do laboratório a pagar. Nosso faturamento não cobria despesas profissionais e particulares. Num fim-de-semana fui com minha esposa e filho rever 'nossos velhos' em Santa Maria. De lá fui sozinho a cidade de Alpestre, nas barrancas do 'Alto Uruguai' onde, segundo um anúncio de jornal, estavam necessitando de um Laboratório. Localidade recém emancipada, pequena população, hospital pequeno e nas mesmas condições de onde eu me encontrava. Um único médico era dono de tudo. Conversamos e fiquei de responder brevemente. Retornei para Pedro Osório. Na passagem por Santa Maria apanhei minha esposa e filho. Em conversa com meu amigo e ex-mestre boticário que tornara-se presidente do partido político PDS resultante e sucessor da antiga ARENA, coloquei-o ao corrente dos fatos. Vaticinei que estava prestes a deixar sua cidade devido a demora no meu credenciamento. Reprovou-me por nunca lhe ter informado tal fato e prometeu-me providências. Demorou algum tempo. Nesse interim decidimos vender nosso chalé em Santa Maria. Com o dinheiro apurado pagamos todas as dívidas e resgatamos com desconto as prestações a vencer. O restante foi empregado na compra de um terreno em que mais tarde começamos a construir nossa atual casa em Pedro Osório. Algum tempo depois veio o tão esperado e batalhado 'credenciamento' para atender os pacientes do então INPS, mais tarde INAMPS, IAPAS e, atualmente, SUS. Este a maior fraude já cometida contra os associados e contribuintes, que de segurados nada têm. Pois qualquer desocupado, ou marginal criminoso quando, por ventura dele, for encarcerado , desfruta de mordomias e direitos não conferidos àqueles contribuintes que desde criança vêm sustentando e investindo suor e sangue, compulsoriamente, neste truculento, viciado e corrompido sistema previdenciário brasileiro. Vale recordar ao caríssimo e virtual leitor que um único detento custa aos cofres públicos nada menos do que três vezes o valor do maior salário mínimo de nosso País. Isto em valores 'estimados' pelas fontes que estão alinhadas com o governo. Convém lembrarmos também, as vezes que a mídia veicula informações sobre as inúmeras transferências do famoso mega traficante 'Fernandinho Beira-mar' cujo aparato nos é apresentado como mais complexo e oneroso do que a segurança do próprio Presidente da República, que já não é nada módica, se comparado com a dos mandatários do primeiro mundo. Isso tudo, e muitíssimo mais, tem um custo que o contribuinte não tem condições de calcular, e menos ainda de fiscalizar. Se avive respeitável leitor!. Amanhã você certamente vai estar lembrando destas humildes elucubrações. Com mais essa rápida, mas que julgo salutar divagação, retorno ao cerne de minhas remembranças. Àquela altura já plenamente credenciado pelo Instituo desisti da transferência para o norte de nosso Estado. Aconteceu de, enfim, verificarem que eu era detentor de um poderoso 'Q.I'. Faltara-me oportunidade de manifestá-lo. Quando conversei com meu amigo político, presidente de partido, eu na realidade estava a revelar meu 'Quem Indique'. Fiquei muito agradecido ao meu eterno amigo, ex-mestre boticário e 'Q.I.' profissional. Quem iria imaginar que esse dinâmico, atilado e humano profissional, para o qual "nada caía do céu", além de exemplar chefe de família, mais uma vez influiria no destino do 'já um tanto maduro' rapa-de-taxo. Com tantos dígrafos inseridos no nome, certamente jamais será esquecido o seu WILMAR AFFONSO GARRES. Que a Suprema Inteligência Universal o ilumine onde se encontrar. Nos deixou. Permanece sua querida família constituída pela esposa, filhas, netos e genros com quem mantemos estreitos laços de amizade e regular convívio como se minha família realmente fosse.

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