Desde jovem agrada-me, sobremaneira, ouvir a conversa das pessoas mais experientes, contanto que comedidas. Com o tempo até conseguia alimentar algum assunto com pessoas de mais idade. E algumas até me davam corda. Desnecessário dizer que assim sentia-me orgulhoso e valorizado perante os demais jovens de minhas relações. Não era melhor nem pior, apenas diferente em relação à maioria deles. Não sei por que “cargas d'água”, eu desenvolvi tal preferência. Até as namoradas eram de mesma idade ou até mais “responsáveis”. Raramente me interessei pelas menininhas. É como se eu fosse um tanto prematuro.
Assim foi, que lá pelas tantas, surpreendi-me formatando uma máxima que levaria pra o resto de meus dias. Afirmava pra mim mesmo que deveria fazer o máximo enquanto era jovem. Se algo saísse errado ou levasse um tombo, bastaria levantar, bater a poeira e reiniciar tudo de novo. Imaginava que depois de “maduro” ficaria tudo mais difícil. Esse pensamento certamente movia-me aos vinte e nove anos de idade. Foi nessa época que mudamos para um chalé singelo afastado cerca de dez quarteirões do centro, onde até então vivera com minha pequena família. O prédio ainda revelava vestígios de alguma suntuosidade de um tempo algo distante. Fachada alta protegendo uma ampla área com soberbas colunas em alvenaria e piso já carecendo de restauração. Paredes de tábuas machambradas, em madeira de pinho, bem conservadas. Cobertura com telhas francesas, de barro, seguindo um modelo clássico de quatro águas mais o expoente cobrindo a referida área. Ao fundo, o prédio era construído em alvenaria de tijolos duplos rebocado de forma um tanto rústica. Porta da frente de ótima madeira de lei, com vidro e grade metálica a guisa de proteção. As janelas em razoável estado de conservação com vidros e venezianas. A porta dos fundos estava pedindo manutenção na fechadura, para melhorar a segurança. Contíguo à cozinha ficava só o banheiro incompleto, sem privada. O WC distanciava uns 5 metros, embaixo da caixa d'água, por trás de um galpãozinho que servia de garagem e outras serventias. Dois portões davam acesso ao galpão e a área da frente da casa. Na frente ainda permaneciam alguns gladíolos em meio a dois ciprestes baixos. Ao lado, a esquerda de quem chegava, três pés de Primavera, em linha. Um pé de mimos-de-vênus, roseiras e margaridas completavam o outrora belo jardim. Ao lado da garagem um Ipê amarelo, tendo em baixo um velho poço d'água desativado. Na frente da garagem era gramado irregular.
O terreno era todo cercado com tela de arame. Na frente junto à entrada pra garagem um pé de “unhas-de-gato” completava o cenário. Ao fundo ficavam diversas árvores frutíferas: Macieiras, pereiras, laranjeiras, mamoeiros, limoeiros, bergamoteira, goiabeiras e uma pequena videira parcialmente encoberta por um caquizeiro e ladeada por uma ameixeira amarela, por sinal muy dulce. Tinha mais. Uma touceira de Vime, um butiazeiro molar, um pé de angico e taquareiras ao fundo, completavam nossa chácara, cujo terreno, equivalente a dois, media em torno de 900 metros quadrados. Nesta singela e edênica chacrinha, certamente vivi muitos dos melhores dias de minha vida, juntamente com meus amados filho e esposa.
Muita coisa exigia manutenção ou restauração. Apesar do braço engessado consegui pintar a parte de madeira da casa. A de alvenaria era pintada de azulão já desbotado, deixei ficar assim. Logo reiniciaram as aulas na faculdade. Tomavam todo meu tempo. E ainda tinha que fazer fisioterapia e revisão no braço direito que não consolidara, devido minhas imprudentes atividades na moradia, certamente. Todos os familiares sabiam disso. Aos médicos, jamais falei coisa alguma. Certo é que vivemos momentos muito gratificantes no pomposo chalé. Tentarei recordar alguns no próximo relato.
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