Não havia decorrido, ainda, um mês desde que trocara de empresa. Se não estava indo tudo a contento, também não me podia queixar de nada. Afinal minha família aumentara. Minha Regina providenciara na perpetuação de nossas famílias. Foi uma gravidez perfeita, sem nenhum registro de anormalidade. O médico, competente e ainda hoje, famoso Ginecologista-Obstetra, membro da Sociedade Brasileira de Fertilidade e Reprodução, que a acompanhara no pré-natal; estava convencido de que tudo correria como esperado. Estava atento. Mesmo assim, deveria ser contatado ao menor sinal. Na tarde-noite, véspera do duo-centésimo septuagésimo dia de “prenhez”, um domingo, Minha Regina começou a sentir as primeiras fisgadas. E não cederam mais. Assustamo-nos. Buscamos a Maternidade. Ela entrara em trabalho de parto. Buscou-se o médico assistente dela. Não se encontrava na cidade. Veio o médico de plantão, que após infrutíferas e traumatizantes tentativas, revelou inépcia para aquele “mister”.
Pela madrugada, decidi ir atrás do médico assistente que ainda não viera de sua fazenda, nas proximidades da cidade. Encontrei-o na saída de sua propriedade. Tocamos para a maternidade. Tempos depois ele afirmaria nunca ter visto um fusquinha correr tanto. Uma cesariana seria a solução de menor risco para os dois, já muito traumatizados devido os esforços durante a noite. Ouvi o berro do tourinho ainda em perigo. A seguir vi a enfermeira passar com um volume embrulhado em tecidos brancos ensangüentados. De “relancina”, vi o “garrão”' exposto, do rebento em apuros, e conclui que era um “culhudo”, que fora receber oxigênio. Os trabalhos de parto demoraram muito e ele ficou cianótico. Vale dizer que meu amado filho já nasceu gremista. Ele permaneceu uns dias na tenda de oxigênio, até se recuperar. Enquanto isso sua Regina-mãe, lenta e sofridamente, mal recobrando a consciência, aos prantos, indagava onde estava seu filho Marcelo. O médico lhe respondeu questionando: Como sabia ela que era um menino? Não sei a resposta, desse curto diálogo. Só a Inteligência Universal o sabe.
Fato é que esse não era o nome que havíamos combinado. Se fosse menina ela poria o nome. Se guri, chamar-se-ia com outro nome em homenagem a um dos maiores vultos da história humana: Alexandre. Isto era devido aos pruridos de recalque que meu próprio nome ainda me causava. Para meu herdeiro não haveria esse desprazer, jamais. Acolhi tacitamente o belo nome. Inclusive para lhe fazer a vontade, pois a seguir o médico informaria que Minha Regina não passava bem. Tivera febre puerperal devido a infecção causada por contaminação bacteriana durante os inadequados trabalhos de parto. Por esse motivo ela ficaria internada, tratando a infecção hospitalar, várias semanas. Minha Regina passou muito mal. A antibioticoterapia lhe secou o leite e lesou o nervo auditivo. O “culhudinho” criar-se-ia “guacho”. E se criou muito bem Graças ao Bom Deus. Minha Regina ficou só “couro e osso”'. “Despacito”, com o inestimável esforço de sua mãe e demais familiares, se recuperaria. Anos depois, como acadêmico de farmácia, trocando idéias com professores e amigos bem informados, ficaríamos sabendo que nosso filho seria nosso único herdeiro. Devido à infecção generalizada do peritônio e cavidade abdominal, comprometendo os respectivos órgãos genésicos, não haveria mais condições de engravidar.
Um comentário:
Roxito no mas!
Ainda bem que na mistura desses tons primários, não amarelei. O rubro enveredou pelas veias mas não se regalou ao coração cerúleo.
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