sábado, 10 de outubro de 2009

VIVENDO E APRENDENDO

Está tudo ali na minha velha e sebosa carteira de trabalho do antigo MTPS. “Saída” de uma multinacional norte-americana no dia 15 de setembro de 1968. No dia seguinte ”admissão” em outra, desta vez européia. Mais exatamente italiana, grupo Montecatini. Jamais tive provas, porém, as más línguas afirmavam que meu novo patrão representava uma modalidade de investimento do Banco Ambrosiano. Este faliu escandalosamente lá pela década de 1980. O mesmo banco teria recursos aplicados no grupo alemão Krupp, de armamentos. Este segmento também teria na década de 1970, fabricado armas no Brasil. Ao fim e ao cabo, esses tentáculos seriam movidos com recursos financeiros oriundos da Santa Sé, via grupo Montecatini e suas extensões. Como pode-se inferir, por essa época, os recursos adquiridos por meio de obras de caridade eram aplicados em armamentos e anticonceptivos. Dois ramos de atividade opostos. Aí eu entro. Pois meu novo patrão pertencia àquele conglomerado internacional.

Fui criticado por uns amigos e aprovado por outros. Fato é que o novo patrão não tinha carro pra mim. Fora astúcia do meu, agora supervisor. Comprando meu passe, ele neutralizava um bom concorrente e o trazia para sua empresa e equipe que agora poderia contar com a qualificada propaganda médica que eu realizava. Porém, o supervisor demonstrou não faltar com sua palavra. Alguns dias depois de admitido na nova firma, acompanhou-me a uma revenda Volkswagem, em Santa Maria escolheu e sugeriu-me um “fuquinha” usado, mas em excelente estado, com baixa quilometragem. Usei uma reserva financeira na “entrada”. O restante seria financiado. O carro pagar-se-ia sozinho, pois eu receberia por quilômetro rodado.

E assim foi efetivamente. Atirei-me com corpo e alma ao trabalho. Minha família aumentara. Prestação de “apê” e agora mais o “pé de borracha”. A manobra fora tão bem planejada pelo meu amigo que ele assumiu como fiador das prestações restantes. Estava tudo arrumado para funcionar. Trabalhava com afinco como sempre. O compromisso adicional representado pela aquisição do carro não tinha sido totalmente digerido. Já na primeira aula na auto-escola, meu instrutor, não eu, daria uma batida com meu carro. Isto que era ”profissional”', desempregado de uma empresa de ônibus. Mas era “profissional”. Seria por “barbeiro” que não estava empregado? Não fiquei sabendo. Certo é que tive que enfiar a mão no bolso para pagar um erro que não cometera. Decidi, arriscar. Doravante pagaria por próprio erro meu. Não dos outros. E assim seria. Dei várias pequenas “bangornadas”, até conseguir a carteira de habilitação. E mesmo depois. A propósito da carteira de habilitação, fiz o exame de direção no DETRAN, em Porto Alegre. O examinador verificando meu comportamento, depois de autorizar algumas manobras, entre elas, parar e buzinar na frente de um hospital. Finalmente, mandou que estacionasse na frente do Palácio da Polícia, na Avenida Ipiranga, na Capital.

Questionou se eu necessitava muito da carteira.

- O senhor está muito nervoso, ou não estudou o suficiente? Cometeu uma série de infrações perigosas. Próprias de “barbeiros”.

Admiti que além de um pouco inexperiente eu estava nervoso, pois da carteira dependia meu emprego. Silenciou um pouco. Não me pediu “incentivo pecuniário” algum. Sisudo, informou-me:

-Vou encaminhar sua carteira para o visto. E completou:

-O senhor não está pronto, Se continuar a cometer essas falhas poderá por em risco até a própria vida. Sábias e experientes palavras que muito tempo depois, e por várias oportunidades recordar-me-ia. Consoante veremos mais adiante.

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