Com esse desempenho, ia eu já 'livrando', literalmente, uma boa 'dianteira' entre meus colegas balconistas na farmácia. Em relação aos irmãos, alguns até já achavam que eu seria um 'doutor', a julgar pela minha performance. Aos dezesseis anos e já ganhando 'salário de maior de idade'. Por sinal, foi nessa época que abri minha primeira caderneta de poupança na agência do Banrisul, único e primeiro banco a instalar-se na “cidade-chave-da-fronteira”, que como já referi, era mui promissora naquele decênio. Dita poupança somente por mim era conhecida. É óbvio que todos entenderão os motivos, face às circunstâncias em que vivíamos. O irmão Estrabulega andava sempre 'depenado'. Socorria-se na mamãe e em mim. O pouco que pudesse eu 'poupava' no dito banco, embora sabendo que só poderia sacar com autorização de minha mãe, ou ela própria. Eu era menor de idade para tal efeito. O rancho de mantimentos era comigo. Quando recebia meu ordenado ía no armazém Araújo e comprava tudo de que estávamos acostumados a consumir. Pagava à vista e mandava um “charreteiro” (carroceiro) entregar em nossa casa. E não esquecia, então, uma boa manta de charque gordo. Ah! Separava o dinheiro para pagar o ''GICA'', pois eu estava cursando o 'Ginásio Cacequiense', do qual fui um dos alunos fundadores. Dito estabelecimento fora organizado e fundado pelo brilhante educador Ciro Cunha, na primeira série. Reencontrara antigos colegas do escolar, que concluíra um ano antes. Um que outro professor também. E assim eu recuperava um pouco do antigo prestígio. Já não era brilhante como 'antanho'. O latim do Ludus Primus e o First book of english volta meia me davam nocautes. E não era falta de empenho. La premiere année du Gymnase não me causou preocupações. Assim, consegui média sete para ser aprovado para a segunda série ginasial; que também tirei de letra nas mesmas condições. O restante do ginásio completá-lo-ia em Santa Maria, algum tempo depois, conforme veremos daqui um pouco. Fosse como tal, ia eu sendo muito bem sucedido e prestigiado. Até fora convidado para integrar o 'elenco' que iria representar um 'rudimento' de peça teatral em que fui muito aplaudido interpretando Dom João VI. Jamais representaria coisa mais hilariante! Até eu me achava parecido com o homenageado monarca. Vai daí que eu ganhara admiradoras. Uma delas jurou casar comigo, acontecesse o que fosse. Oh! Doirados anos de adolescência. O tempo, sempre o herói da trama, botou tudo em seus lugares devidos. Aquele cenário todo a me testar. E o “peito”, ainda potro, aos pinotes de alegria e arrogância, começava a tirar-me a compostura. Certa feita, “atravessei a carreta na frente dos bois”, justamente com meu novo patrão que substituíra o antigo mestre-boticário que se “mandara à la cria” pra sua terra-natal, nas bandas de Pelotas; onde ainda vive sua agora viúva, e filhas já “afamiliadas”. Fato é que o novo patrão não gostou e me repreendeu. Retruquei, já com um “pé-de-cabra” na mão. Chegaram os outros colegas e “aplainaram as arestas”. A essas alturas minha atitude intempestiva tinha preço: Uma semana de suspensão do emprego, além dos descontos no salário, e o efeito moral, que eu já começava a perceber. Foi um grande corretivo. Nunca mais me meti a abelhudo. Pelo menos com os companheiros de trabalho. Fora do trabalho e da escola, eu estava tendo dificuldade pra aceitar certas brincadeiras que julgava um insulto a um “ginasiano” e quase consagrado auxiliar de farmácia. Não me reconhecia como “qualquer um fedelho'!
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
...AINDA O APRENDIZ ...
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