sexta-feira, 25 de setembro de 2009

...AINDA O APRENDIZ ...

Com esse desempenho, ia eu já 'livrando', literalmente, uma boa 'dianteira' entre meus colegas balconistas na farmácia. Em relação aos irmãos, alguns até já achavam que eu seria um 'doutor', a julgar pela minha performance. Aos dezesseis anos e já ganhando 'salário de maior de idade'. Por sinal, foi nessa época que abri minha primeira caderneta de poupança na agência do Banrisul, único e primeiro banco a instalar-se na “cidade-chave-da-fronteira”, que como já referi, era mui promissora naquele decênio. Dita poupança somente por mim era conhecida. É óbvio que todos entenderão os motivos, face às circunstâncias em que vivíamos. O irmão Estrabulega andava sempre 'depenado'. Socorria-se na mamãe e em mim. O pouco que pudesse eu 'poupava' no dito banco, embora sabendo que só poderia sacar com autorização de minha mãe, ou ela própria. Eu era menor de idade para tal efeito. O rancho de mantimentos era comigo. Quando recebia meu ordenado ía no armazém Araújo e comprava tudo de que estávamos acostumados a consumir. Pagava à vista e mandava um “charreteiro” (carroceiro) entregar em nossa casa. E não esquecia, então, uma boa manta de charque gordo. Ah! Separava o dinheiro para pagar o ''GICA'', pois eu estava cursando o 'Ginásio Cacequiense', do qual fui um dos alunos fundadores. Dito estabelecimento fora organizado e fundado pelo brilhante educador Ciro Cunha, na primeira série. Reencontrara antigos colegas do escolar, que concluíra um ano antes. Um que outro professor também. E assim eu recuperava um pouco do antigo prestígio. Já não era brilhante como 'antanho'. O latim do Ludus Primus e o First book of english volta meia me davam nocautes. E não era falta de empenho. La premiere année du Gymnase não me causou preocupações. Assim, consegui média sete para ser aprovado para a segunda série ginasial; que também tirei de letra nas mesmas condições. O restante do ginásio completá-lo-ia em Santa Maria, algum tempo depois, conforme veremos daqui um pouco. Fosse como tal, ia eu sendo muito bem sucedido e prestigiado. Até fora convidado para integrar o 'elenco' que iria representar um 'rudimento' de peça teatral em que fui muito aplaudido interpretando Dom João VI. Jamais representaria coisa mais hilariante! Até eu me achava parecido com o homenageado monarca. Vai daí que eu ganhara admiradoras. Uma delas jurou casar comigo, acontecesse o que fosse. Oh! Doirados anos de adolescência. O tempo, sempre o herói da trama, botou tudo em seus lugares devidos. Aquele cenário todo a me testar. E o “peito”, ainda potro, aos pinotes de alegria e arrogância, começava a tirar-me a compostura. Certa feita, “atravessei a carreta na frente dos bois”, justamente com meu novo patrão que substituíra o antigo mestre-boticário que se “mandara à la cria” pra sua terra-natal, nas bandas de Pelotas; onde ainda vive sua agora viúva, e filhas já “afamiliadas”. Fato é que o novo patrão não gostou e me repreendeu. Retruquei, já com um “pé-de-cabra” na mão. Chegaram os outros colegas e “aplainaram as arestas”. A essas alturas minha atitude intempestiva tinha preço: Uma semana de suspensão do emprego, além dos descontos no salário, e o efeito moral, que eu já começava a perceber. Foi um grande corretivo. Nunca mais me meti a abelhudo. Pelo menos com os companheiros de trabalho. Fora do trabalho e da escola, eu estava tendo dificuldade pra aceitar certas brincadeiras que julgava um insulto a um “ginasiano” e quase consagrado auxiliar de farmácia. Não me reconhecia como “qualquer um fedelho'!

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