quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Estradas de belém: o início de tudo

Pois foi ali na Depressão Central, aproximadamente, onde um viajante procedente da região celeiro das Missões ou Sete Povos Orientais poderá enxaguar a vista nas águas do Ibicuí ou de seus tributários. Em verdade, se atento e com alguma sorte, poderá até divagar e vislumbrar as planuras da Campanha em contraste com os Cerros da Glória, Loreto, Chato (parece que é atualmente conhecido por Seio de Moça) e o Chapadão que se constituem,creio, nos primeiros contrafortes da Cadeia de São Martinho (onde outrora fora a última ''tranqueira'' castelhana), distante cerca de quinze léguas da cidade de Santa Maria, apelidada "Cidade Coração do Rio Grande". Nessa microrregião constituída por relevo alternando planuras e pequenas e esparsas elevações; por onde corre hoje a RS 241, mas que já foi "estrada real" bem à vista do Cerro Loreto, marco da "picada dos farrapos". Em sua cercania viveu João Antonio da Silveira, um dos mais aguerridos chefes farroupilhas galardoado com a patente de General. Esse cenário assistiu minha chegada neste mundo a 1º de dezembro de 1942 e logo fui apelidado Dezembrino por meus pais João Antonio Prestes Coelho e Alice de Oliveira Coelho. Não recordo de meu pai, pois faleceu deixando-me com menos de dois anos, além de oito irmãos mais velhos, para que nossa heroína mãe nos criasse como Deus ajudasse, e Deus ajudou!

Jamais desvendei o motivo destes caminhos serem denominados “Estradas de Belém”; em verdade vim conhecer essas paragens por tal denominação quando já era taludo e percorria a região como viajante-comercial, e, hodiernamente em visitas saudosistas pela internet. Saudosismo que nos remete a uma tendência a elogiar o passado, vivenciado com outros costumes, usos e idéias que davam outro sentido aos princípios morais e éticos tão distantes dos vivenciados hoje. Verdadeiramente não foi moleza o primeiro decênio de minha existência, mas difícil mesmo o foi para nossa heroína-mãe e os irmãos e irmãs mais velhos que agarrados aos arados, a charrua, enxadas, machados, carreta de bois, moinhos de pedra e toda uma estrutura rústica, na maior parte construída a punho pelo pai, ainda em vida e saúde,quando muito auxiliado pelos irmãos mais velhos que em breve e gradativamente seriam "confiscados" pelo serviço militar, e os quais uma vez 'reservista' não mais retornariam ao berço, pois a caserna lhes mostraria outras alternativas ao ensinar-lhes rudimentos de ofícios menos penosos do que trabalhar dia e noite, chova,faça sol ou forme geada, enfrentando ora períodos longos de estiagem ou sucessivas pragas de gafanhotos. E depois de tudo, se alguma coisa sobrava era metade do dono da terra, pois éramos “Meeiros”, compromisso assumido pelo pai e, que agora na sua falta e dos irmãos mais velhos ficava impossível de honrar.

2 comentários:

Pauta Cifrada disse...

Mas bahh!!! Este é o Centauro dos Pampas!!!!
Que maravilha... Estou curioso com os capítulos seguintes desta história de garra, coragem e perseverança! É bem assim que se faz.

GIANNE CARVALHO disse...

Adorei o texto e a forma!! Parabéns. Não conhecia esse dom de escritor. Vou virar seguidora assidua.