Já mencionei rapidamente minha curta passagem pela padaria. Vou contar alguns pormenores. Comecei quando o ano de 1955 transcorria mais ou menos pela metade. Entrada do inverno, frio de “renguiar cusco”. Eu vestindo a conhecida bombachinha tobiana e uma camisa de pelúcia encimada por um já apertado casaco também de riscado. Assim me apresentava para trabalhar todas as madrugadas. Às vezes eu ia com a calça curta. Pra mamãe poder lavar e passar a “bombacha de correr pintos”. Trabalhava até ao meio-dia, ou mais por vezes. Corria pra casa, almoçava e ia pra escola. Deveres de casa, eu tirava de letra. Quando sentia necessidade, estudava e realizava os deveres de casa à luz de candeeiro. Velas eram mais caras e nos traziam dolorosas recordações. Lá pelas tantas eu pulava no lombo do cavalo, desatrelado da carroça e ia fazer cobranças. Meu irmão me emprestava o chapéu. E lá me ia eu à moda de cowboy! Com calças curtas, ou bombachitas tobianas e o chapéu com aba quebrada de um lado. Cópia autêntica dos ''mocinhos'' Roy Rogers, Gene Autry, William Boyd (Hopalong Cassidy) e outros que eu vira em capa de revistas que explorara comercialmente nos trabalhos manuais já referidos. Assim caracterizado, eu riscava as ruas arenosas do Cacequi, me achando o protótipo dos caubois mirins. O velho e já sebento chapéu, com um rústico buraco na copa, fazia a comparação ainda mais autêntica, pretendia eu. Certa vez me desequilibrei, perdi o entono e o xergão (pelego de ovelha com a lã curta), voltei, desmontei, recuperei a tal xerga e recoloquei no “pilungo”. Foi "luita" pra voltar pro lombo do velho matungo. Às vezes o Urco recordava-me a velha Sarica. De tão manso que era. No aprendizado do ofício sofri muito com o tal pão ''cabritinho''. Não tinha queda pra ''mexer com as massas''. Creio que foi o que concluiu o irmão mestre-padeiro quando, prontamente, liberou-me para ir trabalhar na farmácia. As massas perderam um péssimo “sovador”, mas a farmácia ganharia um exímio aprendiz-de-boticário que mais adiante seria verdadeiramente Farmacêutico.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
O APRENDIZ DE PADEIRO
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