domingo, 20 de setembro de 2009

Rei morto, rei posto!

Assim foi, é, e assim será. Sem maiores percalços, celebramos o Natal discretamente, pois não tínhamos cultura e nem fatores circunstanciais a nos cobrar atitude diferente da que estávamos acostumados. Mamãe e minha irmã decerto foram assistir missa natalina, influenciadas por alguma vizinha e já amiga e comadre. Ao virar o ano meu irmão mais velho que correra mundo entre Missiones y Corrientes, na Argentina, estava em casa, a passeio, pra júbilo de minha mãe e todos nós. O irmão Dartagnan, aquele dos 'três mosqueteiros', já há algum tempo ocupava o galpãozinho. A ele se juntou o irmão Paysano. Uma das irmãs mais velhas, também esteve presente. Oito membros de uma família orientada pela pertinácia matriarcal de uma descendente guarani que jamais perdeu o rumo de seu alvo. Por oportuno minha mãe providenciou o batismo do meu irmão Paysano. Essa foi a maior reunião em família dos 'Borges de Oliveira Prestes Coelho' de que participei. Mamãe ganhou uma Comadre, e sua distinta família, como amigos. Era a maneira dela "botar o porco na ceva" ou seja, o jeito dela fazer as coisas. Destarte nossa família começava a deambular pela cidade que já despontava como centro ferroviário e cuja importante estação de trens, fervilhante de passageiros, oferecia espetáculo inédito para os novos citadinos. O novo ano chegara. E com ele novas perspectivas. Os irmãos de longe pra lá volveram. Mamãe tinha "justado" (empregado a soldo) meu irmão maestro-moageiro, que retornara da “Primavera”, em uma padaria. Minha irmã seria aprendiz de costureira; durante o dia, pois a noite eles teriam de ir à escola Noturna, conforme já referi. O irmão Dartagnan se auto determinava e há muito tempo trabalhava em granja. Meu irmão imediatamente mais velho e eu, trabalhávamos em casa; alimentando as galinhas, limpando pátio, capinando e virando terra pra horta, cortando lenha e realizando tarefas de mandaletes. Isto nas férias. Quando as aulas iniciaram essas tarefas só eram realizadas depois das mesmas e depois de feitos os deveres de casa. Mamãe tramava cadeiras com cordas feitas com palha de milho e fazia crochês. E ainda, cozinhava, cosia e remendava nossas roupas além de conservar nossa casa que era um brinco. Assim transcorria a vida no Cacequi, certamente entre os nossos melhores dias. Em dado momento começou a acabar o dinheiro que ainda restara na compra de nossa casa. Na escola eu ia de “vento em popa” enquanto o meu irmão não conseguia “sair do primeiro livro". Os irmãos que estudavam à noite e trabalhavam de dia, com o tempo desistiram, nas ficaram alfabetizados. Governo do presidente Getulio Vargas em curso, arrocho de toda ordem, pouco dinheiro circulante e agora já não tínhamos "mantimentos" para trocar, e o dinheiro acabando. Mas Deus proveria certamente... E Deus proveu!

Nenhum comentário: